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Arquitetos: Voluar Arquitectura
- Área: 600 m²
- Ano: 2023
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Fotografías:Imagen Subliminal
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Fabricantes: Aluminios Castuera, CALVO Y MUNAR, Cortizo, Naturpiedra, Porcelanosa Grupo, Simon
Memória: tempo e epigenética. - "Ao contrário de Newton ou Schopenhauer, seu antepassado não acreditava em um tempo uniforme, absoluto. Ele acreditava em infinitas séries de tempos, em uma rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos. Essa trama de tempos que se aproximam, se bifurcam, se cortam ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades" Jorge Luis Borges, O jardim dos caminhos que se bifurcam.
Tempo. Albert Einstein nos mostrou que o espaço não pode ser concebido de maneira independente do tempo; que ambos os conceitos estão mutuamente inter-relacionados de maneira inquebrantável. O tempo e o espaço se entrelaçam para conformar essa urdidura imaterial sobre a qual existimos e que, como o deus bifronte Jano, apresenta uma mesma essência com duas faces, as duas polaridades inseparáveis: o espaço-tempo. Os arquitetos costumam falar das qualidades do espaço, mas raramente refletem sobre a essência temporal que ele carrega.
Limites e configurações espaciais implicam diferentes percepções temporais. Porque o espaço sem tempo se torna uma imagem estática e plana, perde sua profundidade. Esta casa, afastada do paradigma da Caixa ou do espaço único e homogêneo, sua configuração ramificada faz com que, para entendê-la e conhecê-la, seja necessário percorrê-la, investir um tempo, incentivando a explorar a condição temporal do espaço. Como seus possíveis percursos e bifurcações conformam um enigma cuja chave é o tempo.
Não é possível o breve instante de um olhar completo porque não existe um ponto de vista privilegiado, não há uma perspectiva fixa que represente e explique toda a residência. A casa não se estabelece como um cenário estático, à medida que nos deslocamos, vão se abrindo planos e vãos, sucessivamente se fecham visuais e se ocultam perspectivas. A cada passo, o espaço muda e se desdobra conforme o movimento do nosso corpo. Seja no interior ou no exterior, cada ponto de vista tem considerações particulares e diferentes que vão mudando ao longo do dia, e a luz natural escreve, através de sombras cambiantes, esse contínuo acontecer do tempo.
Também sua materialidade, o aço, nos fala de uma mudança perpétua, oxidando-se com o passar do tempo, como acontece com a matéria viva. Os vidros com seus reflexos sempre cambiantes difuminam os limites entre o interior e o exterior, fazendo com que o jardim se incorpore ao espaço doméstico. Apenas o espelho curvo que aloja em seu interior pode romper com o fluxo convencional do espaço-tempo, distorcendo-o para mostrar em um instante, espaços sobrepostos do tempo impossível e a superposição do quântico. Não podemos deter o tempo, mas podemos construir espaços que façam com que sua percepção seja mais notória, “densificar o tempo”, ainda que seja apenas uma ilusão…
Epigenética. Alvar Aalto dizia que “o modelo mais importante da arquitetura é a natureza, e não a máquina”. As ramificações são um método eficaz para conquistar o espaço em continuidade permitindo a adaptação a um contexto específico e a diferentes situações. É uma estratégia comum da natureza que podemos ver desde os sistemas circulatórios dos seres vivos, os crescimentos das plantas ou as disposições dos rios.
De maneira similar, os corpos da casa se ramificam seguindo as linhas que contornam a vegetação, fechando-se em direção à rua, protegendo-se do vento norte e desdobrando-se em direção à orientação sul, para encontrar as melhores vistas da paisagem e dialogar com a floresta próxima. Portanto, a forma final da casa é uma “forma encontrada”, resultante da interseção entre o lugar e as necessidades internas do programa, e não uma forma preconcebida e imposta. A casa é o resultado de uma exploração específica não transferível para outro contexto, um encontro irrepetível.
A Casa que se bifurca segue este processo criativo. Parte de um programa, as genéticas, segundo as necessidades de uma família de cultura mediterrânea, ou seja, onde o núcleo familiar se amplia continuamente pelos avós, familiares e amigos, requerendo um espaço flexível, que pode se desdobrar ou se recolher conforme as necessidades cambiantes de cada momento. Esses genes ou espaços são as instruções que marcam e se vinculam a atividades, mas não em uma relação direta entre espaço-função, mas que se ativarão e desativarão conforme os diferentes usos que lhes forem dados pelos habitantes.
Os espaços-genes tomam formas geométricas simples, peças retangulares básicas e familiares nas quais se analisam as necessidades espaciais em termos de superfície, altura, frente de iluminação e ventilação, bem como possíveis mobiliários simples e eficazes. Evita-se produzir distribuições estranhas que possam complicar ou limitar o uso livre do espaço ou restringir a colocação de um mobiliário padrão.
Uma vez sintetizados cada gene do programa, eles são distribuídos de forma a gerar cadeias, sequências de programa em termos dos graus de relação e vinculação que foram estabelecidos entre uns e outros. Dessa forma, criam-se códigos programáticos que se situam tanto em planta quanto em seção, dependendo do grau de privacidade que o espaço oferece e sua comunicação com o exterior